Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo
- fm7849832
- há 4 dias
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“Pai, perdoa-lhes”: o silêncio de Deus e o amor revelado na cruz
Poucas palavras são tão profundas quanto aquelas registradas em Lucas 23.34:“Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo.”
Essas palavras foram pronunciadas pelo próprio Deus em Jesus Cristo — o Criador dos céus e da terra, aquele que sustenta e mantém todo o universo. E, no entanto, o contexto em que elas surgem está longe de qualquer posição de honra.
O contraste entre a glória e a cruz
Jesus está suspenso na cruz. É escarnecido, cuspido, açoitado, maltratado a ponto de ficar irreconhecível e, por fim, pregado como um criminoso. Em meio a essa violência extrema, Ele não clama por vingança nem por livramento, mas por perdão.
Ao dizer “Pai, perdoa-lhes”, o sentido mais amplo de sua oração também pode ser compreendido como:“Pai, permite isso. Pai, abandona tua ira.”
Jesus não ignora o que está acontecendo. Pelo contrário, Ele se entrega conscientemente.
O poder que Jesus escolheu não usar
Teria sido fácil para Jesus colocar seus torturadores em seu devido lugar. No jardim do Getsêmani, soldados caíram por terra apenas diante de sua presença. Diante de Pilatos, Ele afirmou:
“Você acha que eu não posso pedir a meu Pai, e ele não colocaria imediatamente à minha disposição mais de doze legiões de anjos?”(Mateus 26.53)
Uma única legião romana podia ter entre três e seis mil soldados. E basta lembrar que um só anjo foi suficiente para destruir 185 mil soldados do exército assírio em uma noite (2Reis 19.35).
Poder não lhe faltava. O que havia ali era entrega voluntária.
Como nós reagiríamos?
Agora pensemos em nós mesmos. Como reagiríamos se um de nossos filhos fosse espancado, cuspido, açoitado e pregado numa cruz?
Provavelmente com fúria, indignação ou profunda impotência. Se tivéssemos poder para agir, interviríamos imediatamente e puniríamos os responsáveis com rigor máximo.
Para Deus, proteger seu Filho e aniquilar seus torturadores teria sido simples. Ainda assim, isso não aconteceu.
O silêncio de Deus diante da cruz
Aqui surge uma das questões mais difíceis de contemplar:como o Deus santo pôde permanecer em silêncio?
Diante da santidade divina:
Moisés se descalçou e prostrou-se (Êxodo 3);
Nadabe e Abiú morreram por desprezarem essa santidade (Levítico 10.1–2);
Isaías clamou em tremor: “Ai de mim! Estou perdido!” (Isaías 6.5).
Esse mesmo Deus agora assiste ao seu Filho amado ser tratado como criminoso. O Justo vê a maior das injustiças. Aquele que “pede contas do sangue derramado” (Salmo 9.12) parece não intervir.
Por quê?
Um acordo eterno
A resposta está além do tempo. Antes da fundação do mundo, Pai e Filho haviam concordado com esse caminho. Pedro escreve:
“Conhecido antes da criação do mundo, revelado nestes últimos tempos em favor de vocês.”(1Pedro 1.20)
A ira que deveria cair sobre os pecadores cairia sobre Cristo.
A sentença cumprida em Jesus
O pedido de Jesus na cruz pode ser compreendido assim:“Pai, não os castigues. Coloca tua ira sobre mim.”
Jesus foi feito pecado em nosso favor. A condenação foi executada nele. Enquanto isso acontecia, Ele continuava orando:
“Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo.”
Essa oração não foi feita apenas uma vez, mas acompanhou todo o processo de sofrimento: enquanto cuspido, espancado, humilhado e crucificado.
O Cordeiro que tomou o nosso lugar
Jesus conhecia o propósito da sua vinda: tomar sobre si o pecado do mundo. Ele permitiu que tudo acontecesse para que a condenação recaísse sobre Ele, e não sobre nós.
“Mas ele foi traspassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniquidades; o castigo que nos trouxe a paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados.”(Isaías 53.5)
Assim, Ele demonstrou o maior amor possível:
“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos.”(João 15.13)
O resultado: perdão e filiação
Por causa da cruz, podemos agora nos achegar a Deus. O perdão é oferecido como um presente, e nos tornamos filhos de Deus.
O silêncio de Deus não foi indiferença. Foi amor.A cruz não foi derrota. Foi redenção.
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Sobre o autor
Samuel Rindlisbacher nasceu em 1961, na Suíça. Formou-se em teologia pela Internationale Bibelschule des Missionswerk Mitternachtsruf (IBMM), em Montevidéu, Uruguai. É colaborador da Chamada da Meia-Noite e ancião em sua igreja na Suíça, onde tem atuado de forma decisiva no ministério com jovens. Casado com Eva, é pai de quatro filhos.
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